"Não tenho forças que me levem daqui, deitaste-me um encanto, Não deitei tal, não disse uma palavra, não te toquei, Olhaste-me por dentro, Juro que nunca te olharei por dentro, Juras que não o farás e já o fizeste, Não sabes de que estás a falar, não te olhei por dentro, Se eu ficar, onde durmo, Comigo.

(in Memorial do Convento)

domingo, 18 de dezembro de 2011

A estranha história do Papa que deu à luz




No primeiro episódio de "The Borgias", após ser eleito Papa, Rodrigo Borgia (ou Papa Alexandre VI), num dos momentos mais engraçados e principalmente críticos da série, é sujeito ao testes et pendentes. Este exame pretendia determinar se o Papa tinha testículos, ou seja, se era de facto um homem. Se confirmado, ouvia-se anunciar solenemente:"Duos habet et bene pendentes"

Fiquei curiosa, quis saber a origem deste ritual. Ora bem, à boa maneira cristã, tal como o pecado original, a culpa é da mulher!

Segundo uma lenda medieval, no século IX, uma mulher inglesa, Joanna, ascendeu à posição de Papa! Muita culta e sábia, disfarçou-se de homem e conseguiu ingressar numa ordem religiosa, progredindo até ser eleita Papa. 

In AD 854, Lotharii 14, Joanna, a woman, 
succeeded Leo, and reigned 
two years, five months, and four days.

A lenda refere que o "Papa João" foi desmascarado em plena praça pública porque terá engravidado e, não sabendo o tempo da gestação, entrou em trabalho de parto durante uma procissão em Roma. Uma das versões diz que Joanna e o seu recém-nascido terão sido apedrejados até à morte, ali mesmo, pela multidão em fúria!


Ilustração do séc.XV, representando o Papa Joana a dar à luz

Considerada uma blasfémia, a partir daquele momento a Igreja ordenou que todos os Papas teriam que ser sujeitos ao testes et pendentes.

Quanto à história de Joanna, envolta em mistério, inclusivamente aproveitada pela Reforma Protestante como propaganda, caiu na obscuridade, não se podendo afirmar com certezas, até hoje, se é real ou apenas um mito.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Shame


Cerca-te uma respiração pesada. Prende-te na confusão dos teus actos. Corres. Queres libertar-te. Esforço em vão. Quase sufocas na claustrofobia do inspirar e expirar. Apercebes-te, tarde de mais, que permaneces na devassidão. Continuas a procurar o calor anónimo dos corpos enrolados em fugaz prazer. Ao teu lado, uma mulher levanta-se. O teu suor prolonga-se-lhe na curva do ombro nu. Sentes-te vazio de emoções. Estás vazio de ti. Já não és nada mais que o instrumento descontrolado do desejo. A seda amarrotada dos lençóis já não consegue esconder a vergonha.



Trailer de Shame (2011)

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Montmartre

Uns salpicos de grisalho povoavam-lhe o farto cabelo. Falava um francês cerrado e amável, com um toque do Leste. Doces e inquisitivos, os seus olhos acompanhavam a fluidez das mãos. Um traço esguio, um outro subjectivo e, lentamente, contornos surgiam no branco do papel. Chamava-se Vladimir. A Jugoslávia era o seu lar, Montmartre o seu sustento. Montmartre, memória boémia do amor e da arte, era um ponto no mapa das minhas viagens. Ele deu-lhe um rosto. O meu.