tag:blogger.com,1999:blog-9038856091048306492024-03-21T18:49:14.934+00:00Nunca te olharei por dentroCatarina Nortehttp://www.blogger.com/profile/13677622580932080602noreply@blogger.comBlogger15125tag:blogger.com,1999:blog-903885609104830649.post-22678885669468248292015-01-27T18:39:00.000+00:002015-01-27T18:39:54.343+00:00Auschwitz - 70 anos<br />
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Auschwitz. Penso que vi o nome pela primeira vez quando li o “<b>Diário de Anne Frank</b>”; dizia, no prefácio, que era um dos campos para o qual a família tinha sido enviada. Aos 10 anos, pouco ou nada sabia sobre a 2ª Guerra Mundial ou o Holocausto. Do “Diário…” permaneceu a admiração, a reflexão, o desconforto; o nome, esse tal, ficou gravado como uma memória distante. Depois chegaram as aulas de História: fascismo, a ascensão de Hitler ao poder, nazismo, anti-semitismo, a invasão da Polónia, 3 de Setembro de 1939, Aliados, Dia D, conceitos e acontecimentos, os campos de concentração, extermínio, e as imagens. Corpos emaciados, deitados ou de pé naqueles tabiques, olhar vazio. Não eram tão “gráficas” como as que mais tarde pesquisei e vi, mas já indiciavam o horror que queriam denunciar. Antes ou depois disto, não consigo precisar, vi na televisão o filme “<b>A Vida É Bela</b>”e depois, mais tarde, “<b>A Lista de Schindler</b>” e assim também fiquei mais próxima do tema do Holocausto. Quis saber mais, devo ter procurado nas enciclopédias Larousse dos meus pais, se calhar já alguma coisa na Internet. Era impressionante e desconfortável o que fui aprendendo, era um horror inimaginável, profundo, atroz! Lembro-me de ler que Eisenhower ordenou que se fotografassem e filmassem os campos de concentração, para que a memória não fosse perdida ou, e isto é assustador, não fosse negada. Na Alliance Française, um dos exercícios passava por ler notícias ou crónicas, e já se falava da Frente Nacional e da sua xenofobia, depois na televisão também se começou a falar deste partido e do seu (execrável) líder Le Pen, que dizia, entre muitas outras, barbaridades também sobre o Holocausto.<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsTIkIM8M2vjk2AeplXMjuG0KIcAQSS0_eZ0nCfaKm4SW2OYunDFUzDlHQvDfH5DQFxHbtch4TLoFuAu0RDBiuSXVNdTxJcjW6xM5R8mrG-IFKelQSVCZ7BnKaQP0LLIou0-NU68QH5VW3/s1600/aadd3c6a1d0852790ca622234a215f32.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsTIkIM8M2vjk2AeplXMjuG0KIcAQSS0_eZ0nCfaKm4SW2OYunDFUzDlHQvDfH5DQFxHbtch4TLoFuAu0RDBiuSXVNdTxJcjW6xM5R8mrG-IFKelQSVCZ7BnKaQP0LLIou0-NU68QH5VW3/s1600/aadd3c6a1d0852790ca622234a215f32.jpg" height="400" width="273" /></a></div>
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Auschwitz e Holocausto são indissociáveis. Auschwitz será certamente o campo de concentração e extermínio mais conhecido. Mas não era, infelizmente, o único; existiam dezenas espalhados pelo Reich. Uns, como Treblinka e Sobibór, tinham como único objectivo o extermínio, eram campos de morte. Auschwitz começou como um campo de concentração, de trabalho, só mais tarde passou a funcionar também como um de extermínio. Porquê este relevo, este “fascínio”? Não será difícil supor as razões. Falar de Auschwitz é falar de mais de um milhão de mortos, um milhão dos quais judeus. Falar de Auschwitz é falar de Mengele e das suas abjectas experiências. Falar de Auschwitz é ver as fotografias dos sobreviventes, dos cadáveres, dos crematórios, dos pertences abandonados. Falar de Auschwitz é relembrar o hediondo significado das palavras: “<i>Arbeit macht frei / O trabalho liberta</i>”. Falar de Auschwitz é ouvir e ler os testemunhos dos sobreviventes. Falar de Auschwitz é sentir-se “sufocado” pelo horror. Há uns tempos vi “<b>Nuit et Brouillard</b>”, excelso documentário de Renais, e assistir àquela sucessão de imagens de horror e de desumanidade rouba-nos de facto algo de nós, é impossível permanecer o mesmo. Falar de Auschwitz é também perguntar como e porquê e não esquecer as respostas. É importante conhecer e reflectir sobre a ideologia que conduziu ao Holocausto. O anti-semitismo esteve sempre presente nos discursos de Hitler. As restrições aos judeus começaram muito antes da guerra. A violência também; não esqueçamos, por exemplo, a “<i>Kristallnacht</i>”. E contudo, ser confrontado com a progressão da Solução Final é deveras desolador e assustador, porque demonstra, com uma crua clareza, que não houve limites para a depravação e monstruosidade do regime nazi. As câmaras de gás, em todo o seu horror, foram a arma eficaz e célere de assassinar milhões de prisioneiros. Mas ler, em “<b>Auschwitz – Os Nazis e A Solução Final</b>”, que a sua idealização surgiu pela procura de “<i>um método que provocasse menos danos psicológicos</i> “ aos nazis é algo tão estranho quanto revoltante. “<i>Era, no entanto, certo para os nazis em Auschwitz que o uso do Zyklon B tornava o processo mais «suave». A partir de então, os assassinos já não tinham de olhar as vítimas nos olhos, enquanto as matavam. Hoess relatou como estava «aliviado» por se ter encontrado aquele novo método e como isso o «poupava» a um «banho de sangue». Estava enganado. O verdadeiro banho de sangue mal tinha começado</i>.” </div>
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Ler estes relatos é arrepiante. Ler sobre as famílias separadas, o transporte em vagões como animais, as selecções, a tortura e violência perpetradas pelas SS e pelos guardas, as experiências médicas, a fome e o frio, a perda da dignidade e da identidade, as marchas da morte, é sem dúvida arrepiante. É, e recupero uma frase que escrevi sobre “Nuit et Brouillard”, perder “algo de nós para que nunca esqueçamos”. E assim, falar de Auschwitz é também, e principalmente, nunca esquecer. Falo agora de Auschwitz como um símbolo. Um símbolo da perseguição e extermínio dos judeus, de outras minorias e opositores. Um símbolo dos outros campos de horror, Dachau, Treblinka, Bergen-Belsen, Chelmno, Buchenwald, citando apenas alguns. Um símbolo do extremismo e da desumanidade. Do mal absoluto. Um símbolo da “<i>percepção do que seres humanos educados e tecnologicamente avançados podem fazer desde que possuam um coração frio</i>” (in Auschwitz - Os Nazis e A Solução Final). Por isso, é vital, e permitam-me a repetição, nunca esquecer. Lamento aqueles que não conhecem esta realidade da História, mas assustam-me ainda mais aqueles que o minimizam, o desprezem, o negam. É simplesmente abjecto. O Holocausto foi um acontecimento único, como todos os acontecimentos são. Mas, e volto ao livro “Auschwitz…”, “<i>julgada à luz do contexto de meados do século XX, a cultura sofisticada da Europa, Auschwitz e a Solução Final dos nazis representam o acto mais baixo em toda a história</i>”. Aprendamos com o que se passou, então. Não esqueçamos nunca, então. Recordemos, sempre, para assim honrar as vítimas e os sobreviventes, para não repetir um passado que não é assim tão distante.
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeUuGjsUWvXgxyRhWOafrjC4v4z2YFv24KqIdKh2gfhFuaOyMYjbIWQlhqK3GmoruHbmOYEz2kq8gHO95h54CzN48k9Iap_pD-vj6l4FSBeybCNuxU5rH6g9EbL0GmTPr1dKeA7DJybfXB/s1600/20070817181455!Auschwitz-Birkenau_memorial.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeUuGjsUWvXgxyRhWOafrjC4v4z2YFv24KqIdKh2gfhFuaOyMYjbIWQlhqK3GmoruHbmOYEz2kq8gHO95h54CzN48k9Iap_pD-vj6l4FSBeybCNuxU5rH6g9EbL0GmTPr1dKeA7DJybfXB/s1600/20070817181455!Auschwitz-Birkenau_memorial.JPG" height="232" width="320" /></a></div>
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<span style="font-size: x-small;"><i>(imagens retiradas do Pinterest)</i></span></div>
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<span style="font-size: x-small;"><i><br /></i></span></div>
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Catarina Nortehttp://www.blogger.com/profile/13677622580932080602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-903885609104830649.post-43786082985090366212014-01-05T18:46:00.000+00:002014-01-05T18:46:03.158+00:00Across The Universe<br />
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Não tivemos medo de o dizer um ao outro. Nem precisámos da língua inglesa, como a música aconselhou. Sorris-me e sei que as nuvens cinzentas são apenas meros e frágeis adornos de um dia que não desabrochou connosco. Olho-te por entre o turbilhão que nos rodeia e devolves-me a certeza do amanhã, na intimidade de um silêncio, no calor do teu abraço.</div>
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<i><span style="font-size: x-small;">"Limitless undying love which shines around me like a million suns.</span></i></div>
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<i><span style="font-size: x-small;">It calls me on and on, across the universe."</span></i></div>
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<i><span style="font-size: x-small;"><br /></span></i></div>
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<span style="font-size: x-small;"><i>(Across The Universe - The Beatles)</i></span></div>
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<i><span style="font-size: x-small;"><br /></span></i></div>
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<i><span style="font-size: x-small;"><br /></span></i></div>
Catarina Nortehttp://www.blogger.com/profile/13677622580932080602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-903885609104830649.post-49474939745640680302013-12-28T23:31:00.002+00:002013-12-28T23:31:42.116+00:00Adeus<br />
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Permiti que regressasses. Inebriada de boa vontade e esperança, aproximei-me, chamei-te a mim. Acto tão dolorosamente em vão. Sob essa máscara de ingenuidade que tanto cultivas e gostas, és o cobarde e o mentiroso que um dia suspeitei ver, por entre meias palavras e efémeros actos. Não posso esquecer. Não consigo perdoar-te. Por isso, não finjas uma atitude honrosa. O meu coração está-te fechado. Sem lágrimas, sem arrependimentos. Não mereces nenhum.</div>
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Catarina Nortehttp://www.blogger.com/profile/13677622580932080602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-903885609104830649.post-1403269089599711712013-12-01T18:08:00.000+00:002013-12-01T18:08:06.097+00:00<br />
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Repouso no banco de jardim, encostada aos doces versos de António Aleixo. Vejo-o chegar, chapéu de feltro e um olhar de carinho e antecipação. Pousa a bicicleta contra a parede de branco caiada e, no que supus já ser um ritual, começa a devolver os pertences à sua morada de setenta anos. Primeiro a cana de pesca, totem de maresia e Guadiana, cúmplice de histórias várias e companheira silenciosa de tantas outras reflexões. Segue-se a caixa de utensílios, um saco de compras, uma outra pequena caixa. Por último, resta-lhe apenas o velho velocípede. É então que reparo no cesto. Sozinha naquele aparente mundo masculino, uma camélia branca sorri. Eu retribuo, pensativa. Que destino encontrará? As mãos alvas e calejadas daquela que lhe encanta os dias eternos, desde a noite em que o tempo parou, nos rodopios do bailarico em que a tomou nos braços pela primeira vez? Ou a nostalgia de um passado que lhe fugiu, encerrado nas memórias do brilho perene dos seus olhos verdes, da melodia de alento que era a sua voz? Estremeço. O homem entra e a camélia desaparece na sombra da pesada porta de madeira. Com ela, as minhas divagações. Nunca saberei o seu fado. </div>
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Catarina Nortehttp://www.blogger.com/profile/13677622580932080602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-903885609104830649.post-83353528543399781892013-07-11T23:18:00.001+01:002013-07-11T23:18:59.131+01:00O fim do sonho<br />
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Ainda te sinto em mim. Distante, o calor do teu corpo sobre o meu é uma vivida lembrança dos dias fantasmas que já não partilhamos. Suspiro; o tempo não volta atrás. Porque haveria? Já nem a espontaneidade de um olhar ou o carinho de um sorriso suportamos. Gostava de te ter beijado ao primeiro luar. Na minha mente, tudo teria sido diferente. Gostava de ter calado as palavras que sempre e inevitavelmente me afastam do presente. Tudo teria sido diferente. Teria? Porque não podemos simplesmente voltar à noite de Verão em que por momentos fomos um, a tua mão a agarrar o meu cabelo, os teus lábios a descobrirem a topografia dos meus? Sem amarras, sem questões, súbditos apenas da paixão, apenas tu e eu. Subitamente, tudo se esfumou. Odeio a incerteza que agora guia os meus dias. Odeio a forma como me fazes sentir. Odeio a indefinição que nos tornámos. Porque insisto? Já não existe nenhum “nós”. Cada olhar que evitas, cada silêncio que me atiras à cara, são facadas no coração que me fazem aperceber que o “nós” nunca existiu. E ainda assim não te odeio. E, ainda assim, como gostava de te ter beijado ao primeiro luar…</div>
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Catarina Nortehttp://www.blogger.com/profile/13677622580932080602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-903885609104830649.post-57611212212934524202013-06-17T21:59:00.000+01:002013-06-17T21:59:21.357+01:00A Midsummer Night's Dream<br />
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For a minute, we were as one. The music stopped, the voices were but a silent echo in the dark, the people fled, like blotting masses that didn´t matter. Not there, not anymore. A fleeting moment, some might say, but in your arms I felt complete. We kissed with the urgency of the discovery and the passion of lovers with a lifetime waiting for them.</div>
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I woke up. Did I? We´re apart but your presence still haunts my days. The nights are muffled despairs, longing for answers to questions I didn´t even ask.</div>
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For a moment we had the world. For a moment we were the world. Not here, not now. We can´t go back. It shattered when we looked away in doubt. We can´t repeat the past. At last, do we have the courage to make the future a certainty and not a dream?
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Catarina Nortehttp://www.blogger.com/profile/13677622580932080602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-903885609104830649.post-18957541198661312532013-05-02T23:02:00.003+01:002013-05-02T23:02:41.432+01:00Desencanto<div style="text-align: justify;">
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Sacudo-te do calor do meu corpo sem arrependimento. A mágoa afasta-se, pequeno ponto distante pelo retrovisor, dissuasora da tentação de regressar. Um dia fomos felizes. Juntos, não sei se o voltaremos a ser. Beijaste-me na noite fugaz, ao coberto da timidez e da ilusão, num sonho não partilhado. Esbarrei na tua imaturidade, qual parede que inconscientemente ergueste. Minto. Como não te podias aperceber das consequências dos teus actos? Como esperavas que eu te pudesse acolher na intimidade do meu abraço, passiva e cega às falsas verdades e doces mentiras com que me espezinhaste? Não sou e não serei o teu porto seguro na solidão alcoolizada dos dias que se arrastam. Perdeste-me quando o teu olhar me quis seduzir mas não me abarcou; perdeste-me na noite em que preferiste o acaso do jogo à honestidade da palavra. </div>
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Catarina Nortehttp://www.blogger.com/profile/13677622580932080602noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-903885609104830649.post-57039755967463583102013-04-27T22:09:00.000+01:002013-04-27T22:09:04.993+01:00Memórias de infância<br />
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O castanheiro era o nosso forte, o nosso lar. Nos crescendos da urbanização, os seus longos e sóbrios ramos estendiam-se num recanto verde que abrigava as nossas brincadeiras. </div>
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Dizem-me que eu era uma criança travessa, que, para chamar os outros meninos, os arranhava e lhes puxava os cabelos. Custa-me imaginar-me assim; tenho de mim a imagem de uma criança roliça e dócil, com uma saudável dose de traquinice, é certo, mas calma e gentil. Guardo esses traços como uma peculiaridade do meu ser, longínqua e preciosa: na infância não existem barreiras, apenas aquelas que nos moldam naquilo que um dia seremos. Aprendi com os meus erros; não mais recorri a arranhadelas e puxões de cabelo. </div>
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O castanheiro chamava meninos e meninas de todos os cantos. Era afinal um plácido oásis que nos resguardava das agitações do mundo exterior. Pelo relvado circundante, encontrávamos sempre reluzentes ouriços, nossos tesouros e conquistas em tranquilas tardes outonais. </div>
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Mais tarde, não eram apenas ouriços nem castanhas que se abatiam pelo relvado. Todos nós sabíamos o que isso significava. O castanheiro nu parecia clamar, de ramos dignamente estendidos, pela sua iminente chegada. E, no que nos parecia um instante, o frio apropriava-se do nosso abrigo. Eram as rajadas de vento, o vapor do nosso expirar, os casacos pesados, o toque de mãos gélidas. </div>
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O Inverno desalojava-nos temporariamente. Na sua sóbria imponência, o castanheiro parecia sorrir-nos, acalmando o nosso desgosto, partilhando um segredo que só posteriormente entenderíamos. Até breve.</div>
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Catarina Nortehttp://www.blogger.com/profile/13677622580932080602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-903885609104830649.post-15299342860476480092012-08-20T22:13:00.000+01:002012-08-20T22:13:54.685+01:00Chapéus Há Muitos<div style="text-align: justify;">
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Já não se usam chapéus. Não mais se ouvem cumprimentos. </div>
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Os teus vizinhos são distantes estranhos que se cruzam contigo na rotina destes dias apressados. Caminhas pela rua, entras no autocarro, olhas em volta buscando sentido no que ouves e vês. Como meros autómatos, as pessoas agarram-se à segurança do que conhecem; não se denota gentileza nos seus gestos e actos; não se ouve um “Bom dia” ou “Boa tarde”. </div>
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Imagino-me nesta mesma cidade há um século atrás; não me é difícil ver os cavalheiros a baixarem as cartolas, num cumprimento inocente e sincero, quando os passos de uma senhora lhes trouxessem o segredo fugaz do seu perfume. </div>
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Há algum tempo, num almoço de amigos, falava-se de chapéus. Ou da falta deles. A personagem mais velha dessas confidências falava precisamente da época em que o chapéu era uma peça marcante da personalidade de cada um. Parecerá talvez egoísta mas apenas me recordo daquele que ele me sugeriu. Uma boina francesa, boemiamente descaída sob os meus cabelos. </div>
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Anseio por tempos assim. De chapéus como arte, de chapéus como cortesia. Por vezes encontro-os, entrincheirados em pequenas aldeias dentro da cidade, perdidos na simpatia de um sorriso, de um acenar. Receio, contudo, pela sua perenidade: a cidade envelhece por entre o crescente turbilhão de excitantes bares e lojas e a modernidade de incontáveis espaços culturais. Duvido que o stock da Chapelaria Nacional me conseguisse serenar. Chapéus há muitos, gracejava o outro; o que nos falta é a franqueza para olharmos nos olhos das pessoas com quem nos cruzamos.
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Catarina Nortehttp://www.blogger.com/profile/13677622580932080602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-903885609104830649.post-37680561429042521412012-03-24T22:39:00.002+00:002012-03-24T22:39:48.555+00:00Chocolate À Chuva<br />
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A manhã acordou chuvosa. Ainda que tímida, já se sentia o cheiro a terra molhada. E eu lembrei-me disto:</div>
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<i>"- Tu parece que vives pelo nariz! Sentes tudo pelo nariz, até parece que tens faro. É esta casa que não cheira a gente, é a tua casa antiga que cheirava a ti e qualquer dia cheira a cão, é a casa da tia Magda que cheira a museu, é o homem das castanhas que cheira a Inverno...</i></div>
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<i>- Então que queres tu. Os cegos conhecem as coisas pelos dedos, pelo tacto. Eu sei se gosto ou não das coisas sobretudo pelo cheiro.</i></div>
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<i>- Estás a ver? É faro, como os cães!</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>- Talvez seja. Mas garanto-te que não há coisa melhor do que o cheiro do chocolate quente que a gente bebe ao chegar da escola, ou o cheiro do chão encerado, ou o cheiro do cabelo da Rosa quando acaba de tomar banho, ou o cheiro das manhãs de domingo ao acordarmos, ou o cheiro de um caderno novo quando a gente nele começa a escrever."</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<span style="font-size: x-small;">in "Lote 12 - 2º Frente", de Alice Vieira</span></div>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;"><br /></span></div>
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Não tenho o "faro" da Mariana <span style="font-size: x-small;">(Rosa, Minha Irmã Rosa; Lote 12 - 2º Frente; Chocolate À Chuva) </span>mas aqui ficam alguns dos meus cheiros favoritos:</div>
<div style="text-align: justify;">
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<div style="text-align: justify;">
</div>
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<li>o cheiro do pão fresco, a estalar de tão quente;</li>
<li>o cheiro de um livro quando o abro pela primeira vez;</li>
<li>o cheiro a maresia;</li>
<li>o cheiro de um caderno por estrear;</li>
<li>o cheiro do meu bolo de chocolate;</li>
<li>o cheiro a relva cortada;</li>
<li>o cheiro da pele bronzeada;</li>
<li>e o cheiro a terra molhada;</li>
</ul>
<div>
<br /></div>
<div>
E já agora, sabem como surge o cheiro a terra molhada? A Mãe Natureza tem uma "pequena" ajuda: das <i>Streptomyces</i> para o ar...(leiam <a href="http://percursosquimicos.blogspot.pt/2010/09/pq-cc-ao-encontro-da-chuva-e-do-cheiro.html" target="_blank">aqui</a>)</div>
<div>
<br /></div>Catarina Nortehttp://www.blogger.com/profile/13677622580932080602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-903885609104830649.post-48867446926366896292012-01-17T22:56:00.000+00:002012-01-17T22:56:24.236+00:00The Girl With The Dragon Tatto<br />
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As árvores despidas flanqueiam o percurso do automóvel. Na imensidão que o seu olhar alcança, ele só vê o silêncio do branco gélido. Ao fundo, a alva mansão ergue-se na sua própria imponência, indiferente ao Inverno agreste. Altivez manchada apenas pela dor de um mistério que os olhos do velho homem reflectem há quatro décadas. Ele devolve-lhe no olhar o compromisso de uma investigação. O frio sela o aperto de mão entre os dois homens, assombrados pela beleza das flores secas que se confundem já com a memória da jovem mulher.</div>
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O dragão conquista-lhe os traumas e as fraquezas. Corpo franzino num olhar forte, ela quer ser apenas mais um vulto na multidão. O preto agressivo das roupas camufla a dualidade que o seu ser encerra.</div>
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Cruzam-se sem aviso, na turbulência do ódio e do horror externos. Unidos na busca pela verdade e justiça. De súbito, são engolidos pela sua imensidão. A ilha é agora uma inquieta ameaça. Estreitando-se, a estrada é agora opressora e perigosa.</div>
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<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/WVLvMg62RPA?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
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<br />Catarina Nortehttp://www.blogger.com/profile/13677622580932080602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-903885609104830649.post-60196964021678817412012-01-01T21:55:00.000+00:002012-01-01T21:59:16.658+00:00<br />
Os ramos semi-nus pendem em direcção ao Douro, num lamento de folhas caídas. Um manto em tons de Outuno que já quase ninguém pisa. O riso das crianças não anima mais os baloiços. Nem sobressalta os mais velhos em busca de descanso e cura termais. Os cálidos repuxos estão agora imóveis. Num edifício fantasma, a tinta gasta assombra as pitorescas inscrições de tempos antigos.<br />
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Hoje, contudo, os nobres portões de ferro foram transpostos, num passeio a dois. As nossas gargalhadas ressoaram pelas férteis encostas. Num repente, um inesperado visitante de quatro patas juntou-se a nós, desejoso de brincadeira. Fizemos-lhe a vontade e ele correu em busca da esfarrapada bola, levantando terra e folhas pelo ar, num salutar desassossego. Nós despedimo-nos, preenchendo o olhar, a memória e o coração com a quietude e beleza deste recanto à beira-rio esquecido.<br />
<br />Catarina Nortehttp://www.blogger.com/profile/13677622580932080602noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-903885609104830649.post-48215103944345481312011-12-18T18:13:00.000+00:002011-12-18T18:14:31.772+00:00A estranha história do Papa que deu à luz<br />
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEik2HdbsJYQhbqsmQbTrTstcczgoqlREarrWJVE69WjWYe4ITnAISrK-gWffS07mYigAbzCz0jSR7sYmscm4xKnNdxSbiFdvqvvhbP_vyQ4LLskDAR4uQA6dJ5T8HZiYrdGdN-QN6o-GQ1O/s1600/tumblr_ljikptAgEu1qz7vkbo1_500.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEik2HdbsJYQhbqsmQbTrTstcczgoqlREarrWJVE69WjWYe4ITnAISrK-gWffS07mYigAbzCz0jSR7sYmscm4xKnNdxSbiFdvqvvhbP_vyQ4LLskDAR4uQA6dJ5T8HZiYrdGdN-QN6o-GQ1O/s320/tumblr_ljikptAgEu1qz7vkbo1_500.png" width="320" /></a></div>
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No primeiro episódio de "The Borgias", após ser eleito Papa, Rodrigo Borgia (ou Papa Alexandre VI), num dos momentos mais engraçados e principalmente críticos da série, é sujeito ao <b><i>testes et pendentes</i>.</b> Este exame pretendia determinar se o Papa tinha testículos, ou seja, se era de facto um homem. Se confirmado, ouvia-se anunciar solenemente:<i>"Duos habet et bene pendentes"</i>. </div>
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Fiquei curiosa, quis saber a origem deste ritual. Ora bem, à boa maneira cristã, tal como o pecado original, a culpa é da mulher!</div>
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Segundo uma lenda medieval, no século IX, uma mulher inglesa, Joanna, ascendeu à posição de Papa! Muita culta e sábia, disfarçou-se de homem e conseguiu ingressar numa ordem religiosa, progredindo até ser eleita Papa. </div>
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<i>In AD 854, Lotharii 14, Joanna, a woman, </i><br />
<i>succeeded Leo, </i><i>and reigned </i><br />
<i>two years, five months, and four days.</i></div>
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A lenda refere que o "Papa João" foi desmascarado em plena praça pública porque terá engravidado e, não sabendo o tempo da gestação, entrou em trabalho de parto durante uma procissão em Roma. Uma das versões diz que Joanna e o seu recém-nascido terão sido apedrejados até à morte, ali mesmo, pela multidão em fúria!</div>
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<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVgicLH7OC9LryL5WsCMECxSmapbPRKZG2Rwqvt9UYCu2ER24hjVOwM_bza51i10ebm3CsmTrBOXoIGJzxPz115wdwULKauGqX8PhEc6BNb-7nCS73WcQO350ZeJd-GPKQtRsBKVDQoFeL/s1600/popejoan.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="316" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVgicLH7OC9LryL5WsCMECxSmapbPRKZG2Rwqvt9UYCu2ER24hjVOwM_bza51i10ebm3CsmTrBOXoIGJzxPz115wdwULKauGqX8PhEc6BNb-7nCS73WcQO350ZeJd-GPKQtRsBKVDQoFeL/s320/popejoan.jpg" width="320" /></a></div>
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<span style="font-size: x-small;"><i>Ilustração do séc.XV, representando o Papa Joana a dar à luz</i></span></div>
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Considerada uma blasfémia, a partir daquele momento a Igreja ordenou que todos os Papas teriam que ser sujeitos ao <i>testes et pendentes</i>.</div>
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Quanto à história de Joanna, envolta em mistério, inclusivamente aproveitada pela Reforma Protestante como propaganda, caiu na obscuridade, não se podendo afirmar com certezas, até hoje, se é real ou apenas um mito.</div>
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<i><br /></i></div>Catarina Nortehttp://www.blogger.com/profile/13677622580932080602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-903885609104830649.post-10978047953354431392011-12-11T20:28:00.001+00:002011-12-11T20:36:57.496+00:00Shame<br />
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Cerca-te uma respiração pesada. Prende-te na confusão dos teus actos. Corres. Queres libertar-te. Esforço em vão. Quase sufocas na claustrofobia do inspirar e expirar. Apercebes-te, tarde de mais, que permaneces na devassidão. Continuas a procurar o calor anónimo dos corpos enrolados em fugaz prazer. Ao teu lado, uma mulher levanta-se. O teu suor prolonga-se-lhe na curva do ombro nu. Sentes-te vazio de emoções. Estás vazio de ti. Já não és nada mais que o instrumento descontrolado do desejo. A seda amarrotada dos lençóis já não consegue esconder a vergonha.</div>
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<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/24cjqfVv1fs?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
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<i><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;">Trailer de <b>Shame</b> (2011)</span></i></div>
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<i><span class="Apple-style-span" style="font-size: x-small;"><br /></span></i></div>Catarina Nortehttp://www.blogger.com/profile/13677622580932080602noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-903885609104830649.post-74047931734277127802011-12-09T18:00:00.000+00:002011-12-10T19:49:09.777+00:00Montmartre<div style="text-align: justify;"><span class="Apple-style-span" style="font-family: 'Trebuchet MS', sans-serif;">Uns salpicos de grisalho povoavam-lhe o farto cabelo. Falava um francês cerrado e amável, com um toque do Leste. Doces e inquisitivos, os seus olhos acompanhavam a fluidez das mãos. Um traço esguio, um outro subjectivo e, lentamente, contornos surgiam no branco do papel. Chamava-se Vladimir. A Jugoslávia era o seu lar, Montmartre o seu sustento. Montmartre, memória boémia do amor e da arte, era um ponto no mapa das minhas viagens. Ele deu-lhe um rosto. O meu. </span></div>Catarina Nortehttp://www.blogger.com/profile/13677622580932080602noreply@blogger.com0