"Não tenho forças que me levem daqui, deitaste-me um encanto, Não deitei tal, não disse uma palavra, não te toquei, Olhaste-me por dentro, Juro que nunca te olharei por dentro, Juras que não o farás e já o fizeste, Não sabes de que estás a falar, não te olhei por dentro, Se eu ficar, onde durmo, Comigo.

(in Memorial do Convento)

domingo, 1 de janeiro de 2012


Os ramos semi-nus pendem em direcção ao Douro, num lamento de folhas caídas. Um manto em tons de Outuno que já quase ninguém pisa. O riso das crianças  não anima mais os baloiços. Nem sobressalta os mais velhos em busca de descanso e cura termais. Os  cálidos repuxos estão agora imóveis. Num edifício fantasma, a tinta gasta assombra as pitorescas inscrições de tempos antigos.

Hoje, contudo, os nobres portões de ferro foram transpostos, num passeio a dois. As nossas gargalhadas ressoaram pelas férteis encostas. Num repente, um inesperado visitante de quatro patas juntou-se a nós, desejoso de brincadeira. Fizemos-lhe a vontade e ele correu em busca da esfarrapada bola, levantando terra e folhas pelo ar, num salutar desassossego. Nós despedimo-nos, preenchendo o olhar, a memória e o coração com a quietude e beleza deste recanto à beira-rio esquecido.

1 comentário: