"Não tenho forças que me levem daqui, deitaste-me um encanto, Não deitei tal, não disse uma palavra, não te toquei, Olhaste-me por dentro, Juro que nunca te olharei por dentro, Juras que não o farás e já o fizeste, Não sabes de que estás a falar, não te olhei por dentro, Se eu ficar, onde durmo, Comigo.

(in Memorial do Convento)

sábado, 24 de março de 2012

Chocolate À Chuva


A manhã acordou chuvosa. Ainda que tímida, já se sentia o cheiro a terra molhada. E eu lembrei-me disto:

"- Tu parece que vives pelo nariz! Sentes tudo pelo nariz, até parece que tens faro. É esta casa que não cheira a gente, é a tua casa antiga que cheirava a ti e qualquer dia cheira a cão, é a casa da tia Magda que cheira a museu, é o homem das castanhas que cheira a Inverno...
- Então que queres tu. Os cegos conhecem as coisas pelos dedos, pelo tacto. Eu sei se gosto ou não das coisas sobretudo pelo cheiro.
- Estás a ver? É faro, como os cães!
- Talvez seja. Mas garanto-te que não há coisa melhor do que o cheiro do chocolate quente que a gente bebe ao chegar da escola, ou o cheiro do chão encerado, ou o cheiro do cabelo da Rosa quando acaba de tomar banho, ou o cheiro das manhãs de domingo ao acordarmos, ou o cheiro de um caderno novo quando a gente nele começa a escrever."

in "Lote 12 - 2º Frente", de Alice Vieira

Não tenho o "faro" da Mariana (Rosa, Minha Irmã Rosa; Lote 12 - 2º Frente; Chocolate À Chuva) mas aqui ficam alguns dos meus cheiros favoritos:

  • o cheiro do pão fresco, a estalar de tão quente;
  • o cheiro de um livro quando o abro pela primeira vez;
  • o cheiro a maresia;
  • o cheiro de um caderno por estrear;
  • o cheiro do meu bolo de chocolate;
  • o cheiro a relva cortada;
  • o cheiro da pele bronzeada;
  • e o cheiro a terra molhada;

E já agora, sabem como surge o cheiro a terra molhada? A Mãe Natureza tem uma  "pequena" ajuda: das Streptomyces para o ar...(leiam aqui)

Sem comentários:

Enviar um comentário