"Não tenho forças que me levem daqui, deitaste-me um encanto, Não deitei tal, não disse uma palavra, não te toquei, Olhaste-me por dentro, Juro que nunca te olharei por dentro, Juras que não o farás e já o fizeste, Não sabes de que estás a falar, não te olhei por dentro, Se eu ficar, onde durmo, Comigo.

(in Memorial do Convento)

quinta-feira, 11 de julho de 2013

O fim do sonho



Ainda te sinto em mim. Distante, o calor do teu corpo sobre o meu é uma vivida lembrança dos dias fantasmas que já não partilhamos. Suspiro; o tempo não volta atrás. Porque haveria? Já nem a espontaneidade de um olhar ou o carinho de um sorriso suportamos. Gostava de te ter beijado ao primeiro luar. Na minha mente, tudo teria sido diferente. Gostava de ter calado as palavras que sempre e inevitavelmente me afastam do presente. Tudo teria sido diferente. Teria? Porque não podemos simplesmente voltar à noite de Verão em que por momentos fomos um, a tua mão a agarrar o meu cabelo, os teus lábios a descobrirem a topografia dos meus? Sem amarras, sem questões, súbditos apenas da paixão, apenas tu e eu. Subitamente, tudo se esfumou. Odeio a incerteza que agora guia os meus dias. Odeio a forma como me fazes sentir. Odeio a indefinição que nos tornámos. Porque insisto? Já não existe nenhum “nós”. Cada olhar que evitas, cada silêncio que me atiras à cara, são facadas no coração que me fazem aperceber que o “nós” nunca existiu. E ainda assim não te odeio. E, ainda assim, como gostava de te ter beijado ao primeiro luar…


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